“Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo”. Colossenses 2:8
O Cristianismo é uma fé para todos os seres humanos (Gl 3:28), independente de qualquer “qualidade de distinção” natural (sexo, cor) ou “artificial” (nacionalidade, religião, ideologia).
Ninguém precisa abandonar sua cultura para se tornar cristão. E por “cultura” dizemos aqueles traços distintivos de um povo, suas cores sociais, que não sejam claramente práticas pecaminosas, a exemplo do canibalismo ou da prática do infanticídio.
O Cristianismo não se confunde com ideologias particulares. Entendendo aqui ideologia no seu sentido amplo de conjunto de ideias ou visões de mundo que influenciam ordenamentos sociais e posições políticas. Devido à mal compreendida maleabilidade do Cristianismo, houve vários momentos históricos em que elementos culturais ou ideológicos passaram a fazer parte de determinada vertente cristã. Quando essa mistura se torna uma tradição, os fiéis dessas vertentes passam a acreditar que ser cristão implica ter as leituras de realidade e discursos próprios dessas versões do Cristianismo. Desse modo, ser cristão, nessa visão, passa a ser um distintivo cultural que assume força de ideologia quando é exportada para outras nações. Isso não significa, necessariamente, um desvio doutrinário ou heresia.
O cristianismo é universal, mas é também local. É importante que ele assuma as cores locais, mas não deve perder sua universalidade ou se tornar parte de uma corrente ideológica que vai ser exportada para outros povos.
A cultura é tradição, o Cristianismo também possui uma linha de tradição que remete aos primeiros ensinos de Cristo. Entretanto cabe uma distinção, ele possui uma tradição, mas não é apenas uma tradição. Tradição é andar pelos mesmos caminhos antigos, cristianismo é novidade de vida (Rm 6:4).
A mesma distinção pode ser feita com relação às ideologias. Muita gente vê pontos de contato entre sua ideologia e os ensinos do Novo Testamento. A partir disso racionaliza de modo a confundir os dois. Outro modo é pela via da cultura. Não é segredo que recebemos um grande afluxo missionário vindo da América do Norte e isso foi uma benção para nós. Mas pelo caminho aberto pelos missionários vieram também teologias com uma carga cultural e ideológica nem sempre fácil de identificar. Com isso passamos a defender as mesmas bandeiras que eles e a ter a mesma visão da realidade. Quando isso está pautado numa realidade bíblica, não há problema, porém nem sempre está.
É verdade que temos que ser sal da Terra e luz do mundo (Mt 5:13-14), mas também é verdade que “esperamos novos céus e nova Terra, onde habita a justiça” (2Pe 3:13). Tanto a tradição quanto a ideologia pensam num mundo melhor, uma pelo que foi e a outra pelo que deve ser. No cristianismo o mundo ideal vem, e vem por meio de “Quem”, do próprio Cristo. Não por esforços humanos. Os dois primeiros são mundos do discurso, o último é da fé.
A realidade de Paulo também era assim, tanto que ele escreveu: “Eu lhes digo isso para que ninguém os engane com argumentos aparentemente convincentes” (Cl 2:4).
As palavras podem ser bonitas e ter toda aparência de sabedoria, mas apenas em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2:03).
Mantemos nossa cultura, e nos apegamos às nossas ideologias, mas com a consciência de que elas são temporais e sem confundi-las com a essência da nossa fé. Isso nos fará menos sensíveis às variações do mundo e mais às riquezas da nossa fé, uma só fé!
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